quinta-feira, 26 de junho de 2014

Sete golfinhos são encontrados mortos em praia de Peruíbe

fonte: De A Tribuna On-line
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Golfinhos foram encontrador mortos em Peruíbe

Sete golfinhos da espécie toninha foram encontrados mortos em um trecho da Praia das Ruínas, em Peruíbe, na manhã desta quarta-feira. Em razão das marcas existentes na pele dos animais marinhos, a suspeita é de que tenham ficado enroscados em alguma rede de pesca.

De acordo com informações do biólogo do Aquário de Peruíbe, Thiago Nascimento, que atuou nos primeiros atendimentos aos animais, dos sete animais, três (dois machos e uma fêmea) eram jovens. Os demais, quatro adultos, eram fêmeas. Duas delas, segundo o biólogo, estavam prenhas.

“Ainda vamos realizar a necropsia em outras duas fêmeas para verificar se também haviam filhotes no interior do útero”.

Apesar de ser comum este tipo de espécie aparecer na praia, o biólogo comenta que nunca havia presenciado a morte de tantos animais ao mesmo tempo.

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A suspeita é que eles tenham ficado enroscados em alguma rede de pesca
“Normalmente registramos duas ou três ocorrências por ano envolvendo este tipo de espécie. Um caso como esse é incomum. Acreditamos que, como os golfinhos costumam andar em grupo, algum tenha se enroscado na rede de pesca e os demais tenham tentado ajudá-lo a desenroscar”.

Ainda conforme o biólogo, na necropsia foi possível identificar marcas de dentes na pele de alguns animais e também fraturas nos bicos.

domingo, 22 de junho de 2014

Praia tóxica

Filtros solares comercializados no Brasil têm substâncias que podem provocar distúrbios no sistema hormonal. Os chamados interferentes endócrinos presentes nesses cosméticos foram encontrados em mamíferos aquáticos.

Por: Henrique Kugler
Praia tóxica
Na praia de Atalaia, em Fernando de Noronha, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) proibiu o uso de filtro solar para evitar danos ao ecossistema. (foto: André Albuquerque/ Flickr – CC BY-NC 2.0)
Na próxima vez que comprar um filtro solar, o leitor se lembrará desta reportagem. Pois nos rótulos dos produtos – anunciados em horário nobre com direito a cenários paradisíacos de apoteose ao verão – escondem-se informações que lhe farão pensar duas vezes antes de aplicá-los à pele. Recentes investigações científicas revelam um segredinho que a publicidade não diz: filtros solares levam, em suas formulações, compostos químicos que podem provocar distúrbios no sistema hormonal de mamíferos. São os chamados interferentes endócrinos.
A indústria cosmética usa, hoje, 26 substâncias orgânicas com propriedades bloqueadoras de raios ultravioleta. Destas, 19 provocam alterações hormonais. “O dado é alarmante, mas ainda pouco conhecido pela população”, comenta a bióloga Mariana Alonso, do Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Faculdade de Oceanografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Tais substâncias não são oriundas apenas dos filtros solares. Elas estão também em cremes de beleza, xampus, maquiagens, tecidos, lentes de óculos escuros e mesmo automóveis, cujas tintas levam fator de proteção contra a radiação ultravioleta
É que pesquisas a esse respeito começaram apenas recentemente. Foi em 2010, na Europa, que veio à tona o primeiro estudo a identificar, em águas costeiras, traços de filtro solar. Ao contrário do que se pensa, tais substâncias não são oriundas apenas dos tradicionais produtos que aplicamos diretamente na pele para nos proteger do Sol. Elas estão também em cremes de beleza, xampus, maquiagens, tecidos, lentes de óculos escuros e mesmo automóveis, cujas tintas levam fator de proteção contra a radiação ultravioleta. 
Bloqueadores solares são onipresentes em nossa vida. Por isso cientistas passaram a dedicar, ao longo dos últimos cinco anos, olhar atento aos componentes químicos desses produtos. E as surpresas não foram boas. 
Alonso publicou em 2013 o primeiro estudo que constatou a presença de octocrileno – um dos interferentes endócrinos mais usados em cosméticos com fator de proteção solar – em mamíferos aquáticos. Altos níveis da substância foram encontrados no fígado de golfinhos (Pontoporia blainvillei). Foram animais coletados entre 1994 e 2009 na faixa litorânea que vai do Rio Grande do Sul ao Espírito Santo. Eram, na verdade, golfinhos vitimados por encalhes nas areias das praias; ou por capturas acidentais em redes de pesca. Dos 56 animais submetidos à análise, 21 estavam contaminados.
“Os níveis mais altos de octocrileno foram aferidos nos golfinhos do litoral do Rio Grande do Sul; mas a frequência maior de contaminação – maior percentual de espécimes com níveis detectáveis da substância – foi verificada no estado de São Paulo”, constatou a bióloga da UFRJ.
“Em todos os casos, foram índices de contaminação tão elevados que nossos colegas espanhóis, que nos auxiliavam nos exames de laboratório, chegaram a pensar que estávamos analisando amostras de protetores solares; e não amostras dos próprios golfinhos”, conta Alonso. As concentrações variaram de 90 a 780 nanogramas para cada grama (ng/g) de lipídio do animal; quando o valor esperado deveria ser inferior a 23 ng/g, limite de detecção da técnica.

Confira o mapa interativo preparado pela CH On-line que mostra os locais onde foram encontrados golfinhos contaminados por octocrileno

“Na verdade, eles não deveriam apresentar contaminação nenhuma por esse tipo de substância”, diz a pesquisadora. Os resultados da investigação foram divulgados no periódico Environmental Science & Technology (v. 47, 2013).
Ao analisar um dos golfinhos, os pesquisadores notaram que se tratava de uma fêmea grávida. Decidiram então, por curiosidade, analisar sua placenta. “O órgão também estava contaminado por octocrileno.”

Muito além do bronzeado

“Se há octocrileno na placenta de golfinhos, é muito provável que ele esteja também na placenta humana”, avisa a bióloga. “Pois, bioquimicamente, somos similares aos mamíferos marinhos.” Esses animais podem ser entendidos como ‘espécie sentinela’: o que acontece com eles pode acontecer – ou já está acontecendo – com o ser humano.
Alonso preocupa-se especialmente com mulheres grávidas. “Nos momentos críticos do desenvolvimento do feto, qualquer desregulação hormonal pode ser altamente nociva”, diz. “Em experimentos com ratos, perturbadores endócrinos já provocaram formação de animais que tinham, ao mesmo tempo, órgãos sexuais femininos e sistema nervoso central com características comportamentais e hormonais de indivíduos do sexo masculino.” 
As substâncias presentes nos filtros solares estimulam a produção de estrogênio (hormônio feminino) e inibem a produção de testosterona (hormônio masculino)
Segundo a pesquisadora, as substâncias presentes nos filtros solares são estrogênicas e antiandrogênicas. Em outras palavras: estimulam a produção de estrogênio (hormônio feminino) e inibem a produção de testosterona (hormônio masculino). “Por isso feminizam os organismos.”
Novidade: cientistas já encontraram interferentes endócrinos no leite materno também. Estudo liderado pela toxicologista Margret Schlumpf, da Universidade de Zurich, detectou concentrações de até 135 nanogramas de octocrileno em 67% das amostras que analisou, enquanto os 23% restantes apresentaram níveis não detectáveis da substância. O trabalho foi publicado no periódico Chemosphere em 2010 (v. 81, nº 10). Segundo a pesquisadora, essas concentrações são associadas diretamente ao uso de cosméticos e filtros solares. “O estudo revelou correlação significativa entre o uso de produtos contendo filtros UV e sua presença no leite materno”, escreve Schlumpf.

Você leu apenas o início da reportagem publicada na CH 315. Clique aquipara acessar uma edição resumida da revista e ler o texto completo. 

Henrique Kugler
Ciência Hoje/ RJ

Pesca da piracatinga será temporariamente proibida na Amazônia


Decisão protege golfinhos e jacarés que são usados como isca; Pesquisas tiveram papel importante para gerar conhecimento sobre a situação das espécies e fornecer subsídios para a implementação da nova medida.


Com a proibição temporária da pesca da piracatinga (Calophysus macropterus), espécies como o boto-vermelho (Inia geoffrensis), na foto, sofrerão menor pressão antrópica. 
Crédito: Fábio Colombini
A partir de janeiro 2015, a pesca da piracatinga (Calophysus macropterus) estará proibida na Amazônia. A moratória, que vale por cinco anos, tem como objetivo proteger os jacarés e botos-vermelhos (golfinhos amazônicos) que atualmente são utilizados como isca nessa modalidade de pesca. “Essa é uma grande vitória para a natureza”, afirma Sannie Brum, pesquisadora do Instituto Piagaçu (IPI) que desenvolveu um projeto para conservação do boto-vermelho (Inia geoffrensis) e já alertava sobre essa problemática desde 2009, quando teve uma pesquisa apoiada pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. A instrução normativa foi assinada pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, além do ministro da Pesca e Aquicultura, Eduardo Lopes.
 
Segundo Sannie, as pesquisas científicas são muito importantes para o processo de aprovação de instruções normativas, pois seus resultados balizam as discussões. “Os dados alarmantes das pesquisas que foram divulgados nos meios de comunicação contribuíram para fornecer subsídios para o Ministério Público preparar a primeira recomendação que resultou nessa moratória. Acreditamos que esses resultados motivaram e contribuíram significativamente para a instrução normativa”, explica.
 
As instituições que financiam os estudos também têm papel fundamental em resultados como esse. “Elas são primordiais, pois os dados não seriam conseguidos sem o apoio dos financiadores, e sem essas informações o poder público teria maiores dificuldades para tomar providências, levando mais tempo para identificar os problemas. É um ciclo de geração de conhecimento que gera conservação”, destaca Sannie Brum. Uma dessas instituições é a própria Fundação Grupo Boticário, que desde 1990 já apoiou cinco iniciativas para a conservação do boto-vermelho na Amazônia. Outra ONG importante é a Associação Amigos do Peixe-Boi (AMPA), criada em 2001 para proteger as espécies de mamíferos aquáticos da Amazônia, como o peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis), a lontra neotropical (Lontra longicaudis) e a ariranha (Pteronura brasiliensis), além do próprio boto-vermelho (Inia geoffrensis).
 
Fiscalização é essencial
 
Apesar da importância da criação da moratória, é importante que ela não fique apenas no papel. De acordo com Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, essa questão é fundamental. “A assinatura da instrução normativa é um grande passo, mas é preciso colocá-la em prática para promover no longo prazo a conservação efetiva das espécies que estão sendo utilizadas para pescar a piracatinga”, comenta.
 
Ao ressaltar a importância do monitoramento da pesca, Malu lembra que a grande extensão do bioma amazônico é um fator que precisa ser considerado. “É preciso forte fiscalização nos rios onde há ocorrência de pesca para que as embarcações flagradas com piracatinga possam ser autuadas, garantindo a aplicação dessa nova política pública. Além disso, esse monitoramento precisa ser planejado de forma eficaz, considerando a grande extensão do bioma, os locais de maior ocorrência de pesca, além das dificuldades de acesso”, afirma.
 
Golfinhos em perigo
 
O estudo de Sannie Brum mapeou áreas de ocorrência da pesca da piracatinga na região do baixo Rio Purus, no Amazonas. A iniciativa demonstrou que a morte dos botos-vermelhos decorrente dessa pesca está bem acima de qualquer limite seguro, e que a atividade pesqueira é a grande ameaça à conservação da espécie na região. O projeto, que teve o apoio da Fundação Grupo Boticário, estima que o volume anual de pesca provoque a morte de 67 a 144 botos-vermelhos anualmente. Essa quantidade está bem acima do limite teórico de mortalidade, estimado em apenas 16 animais. A alta mortalidade do golfinho amazônico é explicada pelo seu uso como isca para a captura da piracatinga, pescado de baixo valor comercial, mas alta produtividade, característica que o torna uma importante fonte de recurso para os pescadores locais. Embora o peixe seja comum na região, não é usado para alimentação dos habitantes ribeirinhos, pois se alimenta de animais em decomposição.
 
Nas áreas pesquisadas, o volume de pesca da piracatinga é de ao menos 15 toneladas por ano, ritmo que ameaça seriamente a sobrevivência dos botos-vermelhos na região, caso continuem sendo usados como isca. “Por isso a importância dessa instrução normativa ser colocada em prática o quanto antes”, explica Sannie. A pesquisadora alerta ainda que as características da espécie contribuem para a vulnerabilidade do golfinho. “Eles têm reprodução lenta; após cerca de dez meses de gestação a mãe pode cuidar de seu filhote por até quatro anos, então a inserção de outro boto na natureza é demorada. Retirar da natureza, em grande quantidade, animais com esse tipo de característica biológica pode inviabilizar a manutenção da espécie”, alerta.
 
Outras ameaças
 
De acordo com o Plano de Ação Nacional para a Conservação (PAN) de Pequenos Cetáceos, que inclui o boto-vermelho, além da pressão de pesca, a espécie ainda enfrenta degradação de seus habitats. No Pará, o grande fluxo de embarcações no Rio Trombetas representa essa realidade. Já no Amazonas, um grande fator de pressão antrópica são as atividades petroquímicas, como a exploração e transporte de óleo e gás, em Manaus. O turismo desordenado, a implantação de novas usinas hidrelétricas e as atividades de garimpo e mineração também afetam os habitats do golfinho, fragmentando as populações e reduzindo o potencial genético da espécie.